Um orçamento de obra completo e certeiro é um diferencial competitivo. Por mais que os clientes costumem optar pelo orçamento mais barato, um documento bem detalhado pode demonstrar, inclusive, a viabilidade da obra. Afinal, ele servirá como referência do desenvolvimento do projeto. Pode-se garantir que não existe orçamento “barato” mas sim “econômico”.
Com um bom cronograma físico e financeiro de obras, o cliente poderá entender melhor seu projeto. Logo, o orçamento será fundamental para alimentar esse cronograma. Portanto, é de suma importância.
Veja um passo a passo completo para elaborar esse documento!
O que é e para que serve um orçamento de obra?
O orçamento de obra é um documento obtido por meio da orçamentação.
A orçamentação é um processo que objetiva determinar os gastos para a execução de uma obra. Isso envolve desde a etapa de concepção da edificação até sua finalização. Em outras palavras, o orçamento de obra é o que determina sua viabilidade ou inviabilidade sob o aspecto financeiro.
Ele começa com uma mera estimativa, mas traz bases conceituais muito sólidas. Por isso, podemos considerar que, caso a obra fosse realizada naquele momento, teria hipoteticamente o preço indicado naquele documento. Afinal, o orçamento de obra contempla todas as necessidades atuais e futuras. Utiliza-se de índices de consumo de materiais e horas trabalhas, obtidos através de apropriações periódicas dos serviços.
Por assumir essa característica, um orçamento completo traz muitos benefícios, além de diferencial competitivo. É possível realizar um controle de custos otimizado, bem como realizar um registro histórico evolutivo em cada obra.
Além disso, aumenta o poder de negociação junto a fornecedores e as possibilidades de participação assertiva em licitações.
Para garantir esses benefícios e um caráter analítico, o orçamento deve ter, ao menos, 4 atributos:
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Poder de representação: dá segurança de que o orçamento reflete a matriz de decisões de obra. Para tanto, deve refletir os pré-requisitos, os riscos, as premissas e as responsabilidades do projeto.
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Valoração estimada: a consideração das variáveis ao longo da execução reflete no orçamento. Ou seja, ele se fundamenta em um processo de decisão que simula a execução.
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Validade temporal: reflete a fotografia financeira da obra num determinado momento. Por isso, precisa ser atualizado conforme o tempo passa.
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Exclusividade: reflete as peculiaridades da obra, pois cada projeto tem fatores característicos que afetam o orçamento.
Como fazer um orçamento de obra passo a passo?
O orçamento de obra é uma consequência do processo de orçamentação, como acabamos de apontar. A partir da orçamentação, teremos um documento completo. Para tanto, é necessário fazer uma estimativa de custos, um orçamento preliminar e um orçamento analítico.
A estimativa de custos é uma avaliação aproximada dos custos do projeto, considerando obras semelhantes realizadas na mesma região. Apesar do seu baixo nível de precisão, funciona para balizar gastos.
Para fazer uma boa estimativa de custos, você pode utilizar o CUB (Custo Unitário Básico) da construção. Ele representa o valor médio gasto por metro quadrado construído por empresas de cada Estado.
E o que é considerado? O tipo de construção, a quantidade de pavimentos e quartos, e o padrão de acabamento. No entanto, deixa de fora os custos com projetos, terreno, fundações, paisagismo, lucro e impostos.
Já o orçamento preliminar é aquele feito após a elaboração do anteprojeto e antes dos projetos básicos. Possui um nível de detalhamento um pouco mais elevado do que a estimativa, pois contempla quantidades e custos de trabalhos menores, como as espessuras de lajes. Com isso, consegue calcular quantidades de concreto, aço, etc.
Por fim, chegamos ao orçamento analítico e detalhado. Ele parte das composições de custos unitários e adentra em cada etapa da obra. Por isso, leva em conta todos os insumos necessários para a execução da obra. Para elaborá-lo, será preciso consultar tabelas de referência ou fazer pesquisas de mercado.
É sobre esse orçamento de obra que falaremos neste passo a passo! Afinal, estamos procurando formas de elaborar um orçamento completo e certeiro! A escolha pelo modo de elaborá-lo é muito pessoal. Existem muitos recursos que facilitam o processo de orçamentação, como o BIM, mas o ideal é entender os procedimentos fundamentais.
#1 – Fazer o levantamento dos custos diretos e indiretos
Custos diretos estão diretamente relacionados ao serviço que será executado. De forma simples, são os gastos com materiais, mão de obra e equipamentos. Isso envolve todos os custos de determinada quantidade de insumos, remuneração e encargos dos profissionais diretamente envolvidos na execução do projeto, e os equipamentos.
Para levantar esses custos diretos, faça cotação com 3 fornecedores. Você pode utilizar ferramentas informatizadas para facilitar a cotação de materiais de construção. Ao final, equalize as propostas para poder compará-las com precisão.
Já os custos indiretos são gastos com a gestão empresarial. Seguros e custos com despesas administrativas são bons exemplos, assim como água, transporte, internet, energia, etc. É importante fazer uma visita técnica ao local da obra para identificar as condições que impactam nos custos indiretos.
#2 – Entender as composições de custos unitários
A classificação dos custos diretos e indiretos é fundamental. Mas a composição dos custos diretos é ainda mais importante no orçamento de obra. Qual a quantidade de insumo e de mão de obra necessária para cada serviço? Quanta argamassa? Quais ferramentas não podem faltar para levantar cada m² de alvenaria? Quantas horas/homens são demandados?
Essa compreensão é fundamental na hora de fazer a cotação. Os projetistas ou orçamentistas poderão fazer o levantamento de quantitativos de materiais e mão de obra a partir do projeto e determinar os serviços a serem executados e suas respectivas composições de custos.
Esta etapa é muito estratégica no orçamento de obra e determinará seu desempenho. Por isso, recomenda-se a utilização de alguma das diversas composições de custos disponíveis no mercado, tais como Sinapi, base da FDE, do DER , PINI etc.
Com a discriminação de todos os materiais, mão de obra e equipamentos necessários para cada serviço, o orçamento ficará completo. Mas não se esqueça de conhecer a produtividade das equipes envolvidas, porque isso interfere no custo e no prazo da obra.
#3 – Considere os impostos
O Brasil é um país com uma alta carga tributária. Todos os custos discriminados para sua obra devem considerar os custos com tributos. Dessa maneira, evitam-se surpresas desagradáveis (distorções grandes no orçamento de obra), multas e punições às empresas envolvidas.
#4 – Defina o lucro
Com as composições dos custos definidas, incluindo os tributos, é hora de definir o lucro. Ele nada mais é do que a diferença entre o faturamento do serviço prestado e os custos de execução. Com base nos históricos, é preciso calcular a margem de lucro para entender o percentual de lucro sobre o montante de custos.
Para tanto, considere características internas, peculiaridades da obra e o cenário do mercado. Se o momento é de grande competitividade, recomenda-se reduzir as margens de lucro para atrair o cliente.
Ainda sobre o lucro desejado no seu orçamento de obra, você já ouviu falar em BDI (Benefícios e Despesas Indiretas)? Esse percentual deve ser aplicado sobre o custo direto do orçamento de obra para que você chegue ao preço final de venda. E não se recomenda utilizar um BDI fixo para todas as obras, porque há peculiaridades.
#5 – Determine o preço de venda
O preço de venda pode ser calculado pela seguinte fórmula:
Preço de venda = custo direto x (1 + BDI/100)
Um dos conceitos importantes na hora de determinar o preço de venda é o VGV (Valor Geral de Vendas). Ele indica a viabilidade do projeto sob o ponto de vista comercial. E tem uma razão: ele é determinado a partir da soma do valor potencial de venda de todas as unidades do empreendimento.
Então, se for o seu caso, não se esqueça deste conceito.
#6 – Feche seu orçamento de obra
Para fechar o orçamento de obras, o responsável pode trabalhar com ferramentas eficientes. Uma delas é a Curva ABC, que concentra os serviços ou insumos da obra em uma ordem decrescente de custos.
Com ela, é possível identificar os itens mais “pesados” do orçamento de obra. É um bom indício do que deve ser priorizado na negociação com fornecedores de materiais ou serviços. Além disso, ela pode servir também como elemento de governança durante a execução do projeto.
Após concluir seu orçamento, basta apresentá-lo ao cliente em forma de planilha ou documento com todos os quantitativos e custos. Ele já inclui o seu lucro, inclusive. Uma boa maneira de apresentação considera também um cronograma de obras.
Mas fique atento caso seu cliente tenha um modelo pré-determinado de planilhas de orçamento. Vale a pena elaborar seu documento neste modelo, se for o caso.
O orçamento de obra é um processo complexo e indispensável na construção civil. A partir do levantamento dos custos diretos e indiretos, é feita a quantificação (composição de custos). Na sequência, consideram-se os tributos e o lucro para definir o preço de venda. Por fim, basta fechar o orçamento e apresentá-lo ao cliente.
Como vimos, o orçamento possui uma validade temporal. No momento atual, esse requisito é ainda mais relevante. Será que a alta de insumos pode frear a construção civil?